TEATRO DE BONECOS? PRA QUE?

AMÉRICA
TEATRO DE BONECOS? PRA QUE?
Se observarmos o contexto do Teatro de Animação de São Paulo hoje, poderemos perceber que não existem produções de espetáculos deste tipo para adultos.Pior do que isso é saber que no Brasil não existem cursos que formem artistas manipuladores e que existe muito pouca literatura sobre o assunto, salvo alguns livros especializados na arte dos mamulengueiros.
Por quê? É a pergunta que nos incomoda e que nos faz pensar o quanto definitivamente devemos nos comprometer com nossa arte.Desde nossa formação como artistas manipuladores, temos levado ao nosso público espetáculos de teatro de bonecos na tentativa de aproximá-lo não só da arte em geral, mas também de uma forma de fazer teatro que por ser tão delicada toca e comove as pessoas.Por isso este novo projeto do Grupo Mão na Luva nos torna ainda mais responsáveis em abrir caminhos para o teatro de bonecos perseguindo os passos de alguns grupos que já fazem isso de forma admirável. Faz-nos também buscar nosso crescimento artístico e nos incentiva a continuar pesquisando.Com este espetáculo queremos sensibilizar o público não só pelo enredo, mas também pela própria animação das formas. Nossa pesquisa é baseada em sombras, objetos, mecanismos sensíveis e delicados, que aliado ao maravilhoso texto do Kafka se transforma em uma montagem aonde o público se surpreende a cada cena.América traz reflexões sobre temas contemporâneos. É um espetáculo que remexe pensamentos, que faz o público refletir sobre como a humanidade está presa a um mundo onde as relações de poder são mais importantes do que as relações sentimentais ou éticas.O espetáculo aponta uma esperança do encontro com um lugar onde todos são aceitos independente de idade ou profissão que exerça. Este lugar segundo Kafka é o Teatro Oklahoma onde não há diferenciação de classe social e onde nosso protagonista termina sua trajetória.Nossa pretensão não é idealizar a figura do artista nem do trabalho decorrente da arte. É na verdade sugerir que cada um encontre seu “ Oklahoma” particular onde possa ser feliz. Talvez este lugar ideal esteja no encontro com a arte onde se podem descobrir várias respostas para as indagações do homem contemporâneo, para suas ansiedades e seus conflitos mais íntimos. O que nos toca na trajetória de Karl é a forma inocente como ele vê o mundo, mesmo sendo humilhado, roubado e enganado durante toda a história. Mesmo assim ele continua buscando seu lugar, sempre tentando manter sua ética e integridade, tentando respeitar seus valores na busca de sua felicidade.O nosso Oklahoma é o palco e nosso encontro com a felicidade está na propagação de uma arte que, como certa vez já disse um grande “bonequeiro”, nós artistas teimamos em fazer com que sobreviva e dure para sempre: a do Teatro de Bonecos.

Comentários